Entre Margens

quinta-feira

A Música...

YOUR SONG - Ewan McGregor

My gift is my song and this one's for you
And you can tell everybody that this is your song
It may be quite simple but now that it's done
Hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is now you're in the world

I sat on the roof and I kicked off the moss
Well some of the verses well, they...they got me quite cross
But the sun's been kind while I wrote this song
It's for people like you that keep it turned on

So excuse me forgetting but these things I do
You see, I've forgotten if they're green or they're blue
Anyway the thing is what I really mean
Yours are the sweetest eyes I've ever seen

And you can tell everybody this is your song
It may be quite simple but now that it's done
I hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is now you're in the world

sexta-feira

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.


Luís de Camões

quinta-feira

30


Trinta anos dá que pensar. Trinta anos dá para mudar. Dá para sentir mais devagar e mais profundo. Dá para criar outro mundo, e ajoelhar-me num canto, a sonhar. Trinta anos é aquele momento, em que queremos apenas o amor, que já estava semeado, e que acabamos de colher. Trinta anos é uma vida de trocas de prazer, que se transforma num mimo, que é feito num ninho, e que satisfaz por completo o meu ser. É um carinho e um sorriso esboçado de lado, que nos dá a segurança que não havia. Trinta anos é essa mudança, que veio às nossas cavalitas, sem nos dizer nada, e que hoje é desejada.

Trinta anos, fazem-se naquele dia, que nos preenche de alegria, mas já não pulamos. Fazem-se no dia, em que agradeço a estes amigos, que estiveram comigo, quando a morte me visitou, para contar coisas tristes. Que estiveram comigo, quando precisava de abrigo, porque me sentia pequenino. E hoje, que sou o mesmo menino, com 30 anos, estou mais forte e mais amado. Continuam ao meu lado, a rirem-se das minhas asneiras e dos meus esquecimentos. Porque os que estiveram comigo, quando me senti renascer, deram-me muitos livros para ler, que eles próprios escreviam com a alma. E hoje, que guardo mais calma, começo a folheá-los, e já me consigo rever.
Quando se fazem 30 anos, amaldiçoa-se o tempo que passou, em que tu viajavas tanto, mesmo ali ao pé de casa, sem ainda me conheceres. Amaldiçoa-se a cegueira de não me veres, a passar no outro lado da rua. Trinta anos é o tempo, que a nossa alma demora a ficar nua, para poder envelhecer, e depois tu me vestires, como mulher que ainda me ama. Trinta anos é a eternidade que me chama. E que vem da tua voz.

Trinta anos foi também o desfazer de uma cama, que aprendi a fazer contigo. Trinta anos é ser o teu maior amigo. É recitar-te um verso, que vem de dentro, e ficar a ver como brilha esse universo.

Trinta anos parece ser uma caixa pequena, onde cabe todo esse amor.

sexta-feira

Porque os improvisos também têm valor...

Surgiu-me na cabeça como um improviso e fiquei com um som na cabeça, como se fosse uma música...


Sou um ser bipolar/ ando na terra e no mar/desgraço-me de tanto voar/ que nem sei onde deva ir/ e o dever é ser e sorrir/ quando me custa deixar/ sou um ser bipolar/ parti sem querer partir/e não sei quando chegar/ seja triste ou feliz/ parado ou a andar/fica tudo dentro de mim/ para amar/ é isso que sou/ um ser bipolar...


Pedro Rocha, 3/06/2005

domingo

Neruda

Vi este poema num blog e não resisti. Copiei-o.

"Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade."

Pablo Neruda

quinta-feira

Amor que morre

O nosso amor morreu...
Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca

terça-feira

Poema da Auto-Estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
De impaciente nervura.

Como guache lustroso,
Amarelo de indantreno,
Blusinha de terileno
Desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.

Agarrada ao companheiro
Na volúpia da escapada
Pincha no banco traseiro
Em cada volta da estrada.

Grita de medo fingido,
Que o receio não é com ela,
Mas por amor e cautela
Abraça-o pela cintura.

Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
Corta a lambreta afiada,
Engole as bermas da estrada
E a rumorosa folhagem.

Urrando, estremece a terra,
Bramir de rinoceronte,
Enfia pelo horizonte
Como um punhal que se enterra.

Tudo foge à sua volta,
O céu, as nuvens, as casas,
E com os bramidos que solta
Lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
Já nem percebe, Leonor,
Se o que lhe chega aos ouvidos
São ecos de amor perdidos
Se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.

António Gedeão (quem mais? :)