Entre Margens

terça-feira

Sem título

É apenas mais um poema, que saiu verdadeiro, como a erupção de um vesúvio:


Ai os poetas!/
Subterfúgios de meias verdades/
que se cobram de meias mentiras/
sempre que amam essa vida/
que chamam de puta/
porque lhes dá luta/
e que traem com frases giras.



Pedro Miguel Rocha, 30/03/2005.

segunda-feira

Flor da pele

"ando tão à flor da pele
que qualquer beijo de novela me faz chorar
ando tão à flor da pele
que teu olhar flor na janela me faz morrer

ando tão à flor da pele
que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
ando tão à flor da pele
que a minha pele tem o fogo do juízo final

um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela
um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
às vezes me preservo noutras suicido

(para o final)
às vezes me preservo noutras suicido
(oh sim eu estou tão cansado mas não pra dizer
que não acredito mais em você
...eu não preciso de muito dinheiro graças a deus
...mas vou tomar aquele velho navio
aquele velho navio)

um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem se-la
um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
às vezes me preservo noutras suicido"

Zeca Baleiro

Porque se encontra mesmo à porta!

Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo a flores tornam, ou as folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

Poemas Inconjuntos de Fernando Pessoa
(7-11-1915)