Hoje sinto-me ...
ESTÁTUA FALSA
Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.
Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar ...
Mário de Sá-Carneiro (1813-1916)
Poemas completos
1 Comments:
Lindo... lindo... mas julgo falso, que não mais sejais que uma estátua, nascente d´oiro!
(Aliás, vocês já sabem que adoro Sá-Carneiro!)
Fiquem bem.
By Unknown, at 28 de dezembro de 2004 às 00:26
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